sábado, 4 de dezembro de 2010

O Presépio


O sol apareceu vigoroso naquela manhã de dezembro. Os moradores da pequena cidade de 20.000 habitantes estavam frenéticos em meio aos preparativos de natal. Motivados por um concurso local, todos montavam seus presépios e enfeitavam as árvores, a fim de ganhar os prêmios.
De pequenos e humildes, a grandes, suntuosas e coloridas, as árvores e os presépios iam dando novo ar a cidade, relembrando a cena da data em Belém.
O mês passou acelerado e nas datas previstas, pequena comitiva de cinco juízes, ia de casa em casa nos endereços inscritos para julgarem os diferentes requisitos. No dia 22, a comissão parou em frente a uma casa de porte médio as margens do centro, por volta das 18 horas.
O pequeno grupo parou estarrecido diante da cena que presenciavam.
_Não é possível! Exclamou um deles meio sem jeito – Deve haver algum engano.
Conferiram o endereço e a numeração estava correta. Perdidos em meio à confusão e a surpresa, um deles resolveu tocar a companhia a fim de obter explicações.
Dentro de instantes, ouviram-se passos e a porta abriu vagarosamente, dando vistas para uma senhora de cabelos grisalhos e bem presos, e de adorável feição, demonstrando gentileza nas palavras, atendeu:
_ Olá, em que posso ser útil?!
Embaraçados, a comitiva pôs-se a explicar a situação, informando sobre o engano.
... _ E, aqui chegamos, e não encontramos nada! Nem árvore ou presépio e, nem luzes!
_ Mas, não há engano algum! Disse a senhora, com doçura, deixando os juízes mais confusos ainda. Passou a explicar em seguida, enquanto os conduzia por longo corredor ao lado da casa, depois de convidá-los a entrar.
_ Há muito tempo fiquei viúva e sozinha, já que não pude ter filhos. Então, em vez de me entregar a dor e ao sofrimento velado, resolvi gastar o tempo de meus dias em algo que me completasse. Possuía na época algum dinheiro extra. A casa passou a ser grande demais para mim...
Neste ponto chegaram aos fundos da residência que dava lugar a espaçoso terreno e uma construção mais ao fundo.
Dentro, era possível ver pelas grandes janelas, duas jovens senhoras e cerca de duas dezenas de crianças em diferentes idades, preparando-se para o que parecia ser o jantar.
_Quando vivo – continuou – meu marido trabalhava ali naquele galpão como marceneiro. Quando partiu, reformei-o por inteiro, a fim de evitar a nostalgia. Transformando-o num refeitório, e, a casa, embora não fosse muito grande, possuía 6 quartos. Então comprei beliches e transformei em dormitórios e a cerca de cinco anos, têm sido o lar dessas crianças que resgato das ruas. Porém, sendo idosa – continuou – e com os recursos escasseando, vi o anúncio da premiação e resolvi participar, afim de tentar ganhar algum dinheiro que pudesse ajudar na manutenção deste lar.
Todos sentiram os corações amolecerem com a história, ao mesmo tempo tão triste e tão feliz daquela mulher.
Porém, havia um problema:
_ Mas, senhora – tomou frente um dos juízes, meio acanhado – Não há enfeite algum aqui, e a premiação, é para os melhores arranjos!
Terminou a fala de cabeça baixa, temendo o constrangimento.
_ Como não!? – respondeu sorridente – Vejo que não compreendes bem, nem o sentido do natal, nem aos meus arranjos meu filho.
Disse de forma suave, apontando com o queixo rosado.
_ Veja, o meu presépio, são este refeitório e esta casa abençoada que acolhem os pequeninos desprotegidos, como a estrebaria a manjedoura de Nazaré. Se quiseres ver, não por falta de uma, mas, temos várias árvores, que embelezam nosso lar, não só no natal, mas também o ano todo.
Todos observavam admirados, o zelo com que se mostrava bem cuidado o quintal e as flores.
_Quanto às luzes, observem...
Continuou sorridente. Parados ante cena comovente, os juízes observavam que dentro do refeitório, com o auxilio das duas jovens senhoras, todas as crianças de mãos postas, oravam a Deus agradecendo pelo alimento, e pela nova oportunidade recebida.
_Pena que não possamos ver. Mas aposto que neste momento, do céu vem milhares de pequeninas luzes, indo de encontro aos corações dos pequeninos, transformando-os em pequenas estrelas aos olhos do Criador.
Sem ter como duvidar e comovidos pela cena, depois de explicarem a situação aos organizadores, todos concederam os prêmios aquela pequena instituição de caridade, num gesto de amor, caridade e humildade.
E assim, todos os anos, a cidade ainda se enfeita, mas em vez de distribuir prêmios, todos agora se ajuntam, unindo forças e fazendo arrecadações de presentes para as crianças.
Em outros momentos, ajudando de alguma outra maneira, aquele que se transformou num local de esperança e de caridade para os  pequeninos, resgatando assim o verdadeiro sentido do natal – o amor.
Adamastor  – Wand B.

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