O
sol apareceu vigoroso naquela manhã de dezembro. Os moradores da pequena cidade
de 20.000 habitantes estavam frenéticos em meio aos preparativos de natal.
Motivados por um concurso local, todos montavam seus presépios e enfeitavam as
árvores, a fim de ganhar os prêmios.
De
pequenos e humildes, a grandes, suntuosas e coloridas, as árvores e os
presépios iam dando novo ar a cidade, relembrando a cena da data em Belém.
O
mês passou acelerado e nas datas previstas, pequena comitiva de cinco juízes,
ia de casa em casa nos endereços inscritos para julgarem os diferentes
requisitos. No dia 22, a comissão parou em frente a uma casa de porte médio as
margens do centro, por volta das 18 horas.
O
pequeno grupo parou estarrecido diante da cena que presenciavam.
_Não
é possível! Exclamou um deles meio sem jeito – Deve haver algum engano.
Conferiram
o endereço e a numeração estava correta. Perdidos em meio à confusão e a surpresa,
um deles resolveu tocar a companhia a fim de obter explicações.
Dentro
de instantes, ouviram-se passos e a porta abriu vagarosamente, dando vistas
para uma senhora de cabelos grisalhos e bem presos, e de adorável feição, demonstrando
gentileza nas palavras, atendeu:
_
Olá, em que posso ser útil?!
Embaraçados,
a comitiva pôs-se a explicar a situação, informando sobre o engano.
...
_ E, aqui chegamos, e não encontramos nada! Nem árvore ou presépio e, nem
luzes!
_
Mas, não há engano algum! Disse a senhora, com doçura, deixando os juízes mais
confusos ainda. Passou a explicar em seguida, enquanto os conduzia por longo
corredor ao lado da casa, depois de convidá-los a entrar.
_
Há muito tempo fiquei viúva e sozinha, já que não pude ter filhos. Então, em
vez de me entregar a dor e ao sofrimento velado, resolvi gastar o tempo de meus
dias em algo que me completasse. Possuía na época algum dinheiro extra. A casa
passou a ser grande demais para mim...
Neste
ponto chegaram aos fundos da residência que dava lugar a espaçoso terreno e uma
construção mais ao fundo.
Dentro,
era possível ver pelas grandes janelas, duas jovens senhoras e cerca de duas
dezenas de crianças em diferentes idades, preparando-se para o que parecia ser
o jantar.
_Quando
vivo – continuou – meu marido trabalhava ali naquele galpão como marceneiro.
Quando partiu, reformei-o por inteiro, a fim de evitar a nostalgia. Transformando-o
num refeitório, e, a casa, embora não fosse muito grande, possuía 6 quartos. Então
comprei beliches e transformei em dormitórios e a cerca de cinco anos, têm sido
o lar dessas crianças que resgato das ruas. Porém, sendo idosa – continuou – e
com os recursos escasseando, vi o anúncio da premiação e resolvi participar,
afim de tentar ganhar algum dinheiro que pudesse ajudar na manutenção deste
lar.
Todos
sentiram os corações amolecerem com a história, ao mesmo tempo tão triste e tão
feliz daquela mulher.
Porém,
havia um problema:
_
Mas, senhora – tomou frente um dos juízes, meio acanhado – Não há enfeite algum
aqui, e a premiação, é para os melhores arranjos!
Terminou
a fala de cabeça baixa, temendo o constrangimento.
_
Como não!? – respondeu sorridente – Vejo que não compreendes bem, nem o sentido
do natal, nem aos meus arranjos meu filho.
Disse
de forma suave, apontando com o queixo rosado.
_
Veja, o meu presépio, são este refeitório e esta casa abençoada que acolhem os
pequeninos desprotegidos, como a estrebaria a manjedoura de Nazaré. Se quiseres
ver, não por falta de uma, mas, temos várias árvores, que embelezam nosso lar,
não só no natal, mas também o ano todo.
Todos
observavam admirados, o zelo com que se mostrava bem cuidado o quintal e as
flores.
_Quanto
às luzes, observem...
Continuou
sorridente. Parados ante cena comovente, os juízes observavam que dentro do
refeitório, com o auxilio das duas jovens senhoras, todas as crianças de mãos
postas, oravam a Deus agradecendo pelo alimento, e pela nova oportunidade
recebida.
_Pena
que não possamos ver. Mas aposto que neste momento, do céu vem milhares de
pequeninas luzes, indo de encontro aos corações dos pequeninos,
transformando-os em pequenas estrelas aos olhos do Criador.
Sem
ter como duvidar e comovidos pela cena, depois de explicarem a situação aos
organizadores, todos concederam os prêmios aquela pequena instituição de
caridade, num gesto de amor, caridade e humildade.
E
assim, todos os anos, a cidade ainda se enfeita, mas em vez de distribuir
prêmios, todos agora se ajuntam, unindo forças e fazendo arrecadações de
presentes para as crianças.
Em
outros momentos, ajudando de alguma outra maneira, aquele que se transformou
num local de esperança e de caridade para os pequeninos, resgatando assim o verdadeiro
sentido do natal – o amor.
Adamastor
– Wand B.
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