quarta-feira, 18 de maio de 2011

Lembranças


Joãozinho tinha apenas quatro anos de idade e um gênio bem típico, igual àquele que descreve a sabedoria popular.
Sempre mantinha um sorriso meigo no rosto para ofertar a quem quer que fosse, e uma curiosidade insaciável, bem peculiar da idade.
Em certa manhã de um fim de semana, Joãozinho brincava sentado na varanda que rodeava boa parte da casa. Além da varanda, a casa era rodeada por vasto jardim com muitas árvores, arbustos e flores por toda parte.
Brincava descontraído quando um de seus brinquedos saiu rolando, indo parar mais longe, batendo no parapeito da varanda.
Joãozinho se levantou e foi apanhar o brinquedo, e para a sua surpresa, ao se abaixar deu de cara com um ninho de beija-flor com dois filhotes semi emplumados, que viu pelo vão nas madeiras.
Com ar admirado, correu para buscar a mãe, a fim de mostrar a sua descoberta.
Tiveram maior surpresa ainda ao retornar, quando a certa distância, perceberam que a mamãe beija-flor havia retornado ao ninho e de forma carinhosa e com grande maestria, alimentava os pequenos filhotes usando a ponta do fino bico.
Joãozinho era só curiosidade:
_Mamãe, o que ela tá fazendo?
_Esta dando a comidinha para os filhinhos dela.
_Mas por quê?
_Porque senão eles vão morrer de fome e não vão crescer e ficar fortes como ela.
Joãozinho se lembrou então da morte de Thor, o velho cão da família e da tristeza que sentiu. Fez uma careta de piedade, como se imaginasse que o mesmo acontecesse com as pequenas avezinhas.
Antes que pudesse esboçar mais alguma reação, a mãe insiste para que os deixassem quietinhos e que voltasse a brincar. Enquanto isso, ela terminaria o almoço.
Mais tarde, naquele mesmo dia, como de costume, a mãe de Joãozinho sentou-se para almoçar depois de ter servido o marido e de ter feito o prato do menino, pondo-o sentado no chão para que pudesse ficar mais a vontade e, assim “brigar” com a colher numa lambança saudável enquanto comiam.
A conversa do casal seguia agradável, quando de repente, a mãe de Joãozinho parou cutucando o marido achando graça.
Joãozinho estava com Thomas, o gato da família no colo, tentando alimentá-lo a todo custo com a colher. Então, sua mãe pergunta sorrindo:
_Joãozinho, o que você está fazendo?
Sem que ele se desse conta dos olhares curiosos, responde:
_Dando comida pro gatinho não morrer...
***
É apenas uma história singela, mas retrata bem como a nossa vida é feita de lembranças. E muitas dessas lembranças serão nossas referências durante a vida.
Às vezes elas nos são amargas e tristes. Muitas vezes sem sentido oportuno, mas que com o tempo, mudam o nosso modo de agir e de pensar, e muitas, é claro, são boas e construtivas como as do Joãozinho.
Para o aprendizado, sempre cabem perguntas, e, a da vez é: que tipo de lembranças estamos sendo?
Muitas vezes nossas palavras dizem coisas que não condizem como nossos gestos e atitudes. Não é por menos que o mundo anda tão confuso, pois, parece-nos que muitos perderam suas identidades.
Saber distinguir a vontade da razão é de grande importância.
Somos todos responsáveis pelas heranças que deixamos.
Cultivar boas lembranças é essencial na construção de um mundo melhor.

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