Joãozinho
tinha apenas quatro anos de idade e um gênio bem típico, igual àquele que
descreve a sabedoria popular.
Sempre
mantinha um sorriso meigo no rosto para ofertar a quem quer que fosse, e uma
curiosidade insaciável, bem peculiar da idade.
Em
certa manhã de um fim de semana, Joãozinho brincava sentado na varanda que
rodeava boa parte da casa. Além da varanda, a casa era rodeada por vasto jardim
com muitas árvores, arbustos e flores por toda parte.
Brincava
descontraído quando um de seus brinquedos saiu rolando, indo parar mais longe,
batendo no parapeito da varanda.
Joãozinho
se levantou e foi apanhar o brinquedo, e para a sua surpresa, ao se abaixar deu
de cara com um ninho de beija-flor com dois filhotes semi emplumados, que viu
pelo vão nas madeiras.
Com
ar admirado, correu para buscar a mãe, a fim de mostrar a sua descoberta.
Tiveram
maior surpresa ainda ao retornar, quando a certa distância, perceberam que a
mamãe beija-flor havia retornado ao ninho e de forma carinhosa e com grande
maestria, alimentava os pequenos filhotes usando a ponta do fino bico.
Joãozinho
era só curiosidade:
_Mamãe,
o que ela tá fazendo?
_Esta
dando a comidinha para os filhinhos dela.
_Mas
por quê?
_Porque
senão eles vão morrer de fome e não vão crescer e ficar fortes como ela.
Joãozinho
se lembrou então da morte de Thor, o velho cão da família e da tristeza que
sentiu. Fez uma careta de piedade, como se imaginasse que o mesmo acontecesse
com as pequenas avezinhas.
Antes
que pudesse esboçar mais alguma reação, a mãe insiste para que os deixassem
quietinhos e que voltasse a brincar. Enquanto isso, ela terminaria o almoço.
Mais
tarde, naquele mesmo dia, como de costume, a mãe de Joãozinho sentou-se para
almoçar depois de ter servido o marido e de ter feito o prato do menino, pondo-o
sentado no chão para que pudesse ficar mais a vontade e, assim “brigar” com a
colher numa lambança saudável enquanto comiam.
A
conversa do casal seguia agradável, quando de repente, a mãe de Joãozinho parou
cutucando o marido achando graça.
Joãozinho
estava com Thomas, o gato da família no colo, tentando alimentá-lo a todo custo
com a colher. Então, sua mãe pergunta sorrindo:
_Joãozinho,
o que você está fazendo?
Sem
que ele se desse conta dos olhares curiosos, responde:
_Dando
comida pro gatinho não morrer...
***
É
apenas uma história singela, mas retrata bem como a nossa vida é feita de
lembranças. E muitas dessas lembranças serão nossas referências durante a vida.
Às
vezes elas nos são amargas e tristes. Muitas vezes sem sentido oportuno, mas
que com o tempo, mudam o nosso modo de agir e de pensar, e muitas, é claro, são
boas e construtivas como as do Joãozinho.
Para
o aprendizado, sempre cabem perguntas, e, a da vez é: que tipo de lembranças estamos
sendo?
Muitas
vezes nossas palavras dizem coisas que não condizem como nossos gestos e atitudes.
Não é por menos que o mundo anda tão confuso, pois, parece-nos que muitos
perderam suas identidades.
Saber
distinguir a vontade da razão é de grande importância.
Somos
todos responsáveis pelas heranças que deixamos.
Cultivar
boas lembranças é essencial na construção de um mundo melhor.
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